Ao ouvir-lhe a voz, tremeu no telefone:
— Ah, Engraçadinha!
Era meio-dia, exatamente. Tal pontualidade pareceu-lhe uma delícia completa. Um riso gratuito vibrou nos seus maxilares :
— Como vai? E o nosso Zózimo?
Essa efusão do homem a perturbou. Num enleio de menina, responde:
— Vou bem. Muito amolada. E o senhor, aliás, desculpe: você?
Exultou:
— Assim, assim. Mas olha! Tem um lápis? Tem?
— Um momentinho.
Engraçadinha estava falando da casa de um vizinho. Dr. Odorico suspira para si mesmo: “Dou-lhe a geladeira!” Superara, já, a fase das dúvidas. “Ela merece”, disse para si mesmo, pensando na Sheer Look de sete pés. Engraçadinha voltava.
— Pode dizer. Onde é?
Ditou:
— Rua da Assembléia. Tomou nota, Assembléia, 1101. Segundo andar. É na frente, ouviu? Na parte da frente.
Escrevia, quase soletrando:
— Assembléia. Como é o número? Ah, 1101.
E ele:
— Segundo andar. Prédio antigo. Escuta, Engraçadinha.
— Estou ouvindo.
Baixa a voz:
— Eu te espero, embaixo, na porta. E outra coisa. Como vai a nossa amiguinha? Você notou alguma coisa de especial ou...
— Nada.
— Antes assim. Tomara que não tenha acontecido nada e que...
— Tomara!
Ele acrescentou, vivamente:
— Mas convém o exame! — e repetia, incisivo: — convém o exame! É indispensável! Nada como o preto no branco.
Engraçadinha suspira:
— Não quero mais tomar o seu tempo e...
O juiz repetia:
— Duas horas, ouviu? Estarei lá. Duas horas.
Quis dar um certo charme à despedida:
— Au revoir, Engraçadinha, au revoir!
Larga o telefone. Ia com as pernas bambas de felicidade.
*
Engraçadinha falara na casa de D. Araci. Ao desligar, pensa: “Estou natural como se não tivesse acontecido nada.” Entrara na casa da vizinha, risonha, quase feliz; dera um tapinha na face de Iara. D. Araci estava nos fundos da casa. Depois de pedir licença, encaminhara-se para o telefone. Começou a discar, cantarolando. Súbito, estaca: “Estou cantando, meu Deus!” E essa naturalidade doce pareceu-lhe quase cinismo. Como é que, depois de ter sido acariciada de uma certa forma, uma esposa... “Eu devia estar sofrendo e não sofro. Sofro muito pouco. Quase não sofro.”
Deixa o telefone. D. Araci vem entrando:
— Escuta, Engraçadinha — vira-se para Iara: — Minha filha, sai um pouco.
Ao mesmo tempo que Iara abandona a sala, D. Araci puxa Engraçadinha:
— Senta. Estou desesperada, Engraçadinha!
Olhando-a, Engraçadinha pergunta a si mesma: “Será que ela passou por isso?” Queria acreditar que na intimidade sexual tudo acontece ou, pelo menos, tudo pode acontecer. D. Araci começa a chorar:
— Imagina que o Leleco chegou hoje, sabe a que horas? Faz uma idéia?
— O Leleco?
— Quatro horas, Engraçadinha! Quatro da manhã!
— Mas oh, não se aborreça!
D. Araci põe a mão no braço da outra:
— Eu te contei o negócio do Ceguinho? Sim, o Ceguinho, o médium vidente? Contei, sim. Não contei? O Ceguinho, que faz muita caridade. Contei. E sabe que ele não cobra? Pois o Ceguinho disse que, dos 18 aos 19 anos, ia acontecer uma desgraça ao Leleco!
Engraçadinha tem um muxoxo:
— Palpite!
E a outra:
— Mas escuta. Leleco chegou, hoje, às quatro, branco como esse papel. Perguntei: “Está doente, meu filho?” Nem me respondeu e foi para o quarto. E, hoje, de manhã fui ver os bolsos do Leleco. Ele saiu com seis contos pra pagar a casa. Não pagou e está faltando três contos.
Engraçadinha tomou entre as suas as mãos da amiga:
— Pode ter perdido, quem sabe?
D. Araci ergue-se:
— Não creio. O Leleco anda com umas companhias que... Um amigo dele, o tal de Cadelão, dizem até que fuma maconha. Além disso, o Ceguinho... Você não acredita, mas olha: o Ceguinho é batata!
Engraçadinha levanta-se:
— Tenho que ir. Passo depois pra conversar melhor.
Gemeu:
— Passa. Vou te levar na porta. E outra coisa que também me preocupa: dizem que esse Cadelão, só o nome, vê se pode?, mas o Cadelão não gosta de mulher. O que é que eu vou fazer, minha Nossa Senhora?
*
Antes de falar com Engraçadinha, no telefone, Dr. Odorico resolvera passar na casa do Oto. O diálogo com o escritor mineiro era, para ele, se assim posso dizer, um excitante, um afrodisíaca espiritual, de primeira ordem. A inteligência jorrava do Oto Lara assim como a água dos tritões de chafariz. Foi encontrar aquele jovem espírito remexendo uma papelada imensa. Dr. Odorico deduziu que estaria, ali, a obra que o escritor ia construindo nos intervalos dos seus bate-papos antológicos.
O juiz observa, com uma cálida simpatia intelectual:
— O amigo produz muito!
De cócoras, a mão enfiada naquele torvelinho de papéis rabiscados, o Oto Lara deixa escapar um dos seus lampejos inumeráveis:
— Eu sou o autor de muitos originais, e de nenhuma originalidade!
Foi tal o deleite do juiz que chegou a perder a fala. Mais do que nunca, pareceu-lhe humilhante o brilho do Oto Lara. E lamentou que um taquígrafo não andasse atrás dele, as 24 horas do dia, pago pelo Estado, para imortalizar-lhe as frases perfeitas, irretocáveis. Só uma coisa admirava o Dr. Odorico: é que esse gênero verbal não arrancasse de si mesmo, todas as semanas, uma Comédia Humana, uma Divina Comédia ou As Vidas dos Doze Césares.
Dr. Odorico dá uma voltinha pela sala. Quis arrancar mais uma faísca daquele talento. Pergunta (ao mesmo tempo que imagina: “Lá vem bomba!”):
— Que me diz o amigo desse levante armado?
Atracado à papelada, Oto Lara deu um rútilo piparote na sedição que abalava o país:
— Isso é uma curra aérea! É a juventude aerotransviada! Em vez da lambreta, o avião!
Para o Dr. Odorico era demais. Pálido de admiração, praguejou interiormente: “Ah se eu tivesse esse brilho, não precisava geladeira, não precisava conversão. Levava Engraçadinha direitinho na conversa!” Estende a mão:
— Meu caro Oto, o diabo é que nós não temos coragem nem pra curras aéreas, nem pras propriamente ditas!
Eis a verdade: o Dr. Odorico, que se considerava um pusilânime, respeitava a coragem, onde quer que a encontrasse, inclusive nos gangsters. Sem querer, escapou-lhe o comentário meio gratuito: “O homem honrado é um gangster sem coragem!” Em cima da mesa do Oto, estava um volume de Molière, autor que Dr. Odorico considerava, textualmente, “meio gaiotote”.
*
O Dr. Alceu abrira dois consultórios. Um na cidade, outro em Del Castilho. Em ambos, atendia três vezes por semana. Na Zona Norte, fazia o aborto pobre ou, na pior das hipóteses, grátis. Já na cidade, os preços eram bem mais puxados. Naquele dia, precisava estar em Del Castilho. Mas não negava nada ao Dr. Odorico que, certa vez, o salvara num processo de estelionato. Uma hora antes, lá aparecia o juiz. (Subira a escada devagarinho.) O ginecologista abriu-lhe os braços numa efusão total. Já queria saber, de olho a um tempo terno e rútilo: “Algum galho? 14 anos? Grande idade! E quem é o feliz autor? O meritíssimo?” O Dr. Odorico, que, comumente, sentia-se um triste, um deprimido, gostava daquela plenitude jucunda e um pouco ordinária. Explicou tudo. Concluía: “Não há certeza, percebeu? Não há certeza!” Toma respiração, e baixa a voz, cavo: “É como se fosse minha filha!” Dr. Alceu põe-lhe a mão em cima do joelho:
— Sei, sei. É como se fosse sua filha, compreendo. Mas escuta cá: o meritíssimo há de querer dar uma espiadinha, não quer?
Silêncio. Dr. Odorico pensa: “Se eu disser que sim, vou parecer um bandalho, um cínico.” Vacila ainda. Mas argumenta consigo mesmo: “Quem, no meu lugar, não aproveitaria a situação?” Dr. Alceu percebe o conflito:
— Meu caro juiz, eu sou ginecologista. O ginecologista entende tudo, sabe tudo e não acredita em nada.
Já com uma certa dispnéia emocional, Dr. Odorico arrisca:
— Seria correto? De mais a mais, a mãe vai estar presente e eu não quero, em absoluto, não quero, entenda bem!
Dr. Alceu ri com um salubre cinismo:
— Não se incomode, Meritíssimo! Pode deixar! Eu dou um jeitinho!
Larga uma gargalhada, incontrolável, soberba, que inundou o consultório. Dr. Odorico pensa, fascinado por essa alegria irresponsável, pensa que só os canalhas sabem rir.
Cochicha o apelo:
— Mas não me comprometa!
*
Uma hora depois, está o Dr. Alceu segurando as extremidades da toalha, na frente de Silene. Diz com uma naturalidade melíflua:
— Sobe aí, minha filha, sobe!
Silene obedece, um pouco atônita. Engraçadinha está ao lado da mesa. Dr. Alceu indica os estribos de metal:
— Olha: põe os pés aqui. Assim.
Dr. Odorico mantém-se a distância, de costas para a cena.
— Ah, Engraçadinha!
Era meio-dia, exatamente. Tal pontualidade pareceu-lhe uma delícia completa. Um riso gratuito vibrou nos seus maxilares :
— Como vai? E o nosso Zózimo?
Essa efusão do homem a perturbou. Num enleio de menina, responde:
— Vou bem. Muito amolada. E o senhor, aliás, desculpe: você?
Exultou:
— Assim, assim. Mas olha! Tem um lápis? Tem?
— Um momentinho.
Engraçadinha estava falando da casa de um vizinho. Dr. Odorico suspira para si mesmo: “Dou-lhe a geladeira!” Superara, já, a fase das dúvidas. “Ela merece”, disse para si mesmo, pensando na Sheer Look de sete pés. Engraçadinha voltava.
— Pode dizer. Onde é?
Ditou:
— Rua da Assembléia. Tomou nota, Assembléia, 1101. Segundo andar. É na frente, ouviu? Na parte da frente.
Escrevia, quase soletrando:
— Assembléia. Como é o número? Ah, 1101.
E ele:
— Segundo andar. Prédio antigo. Escuta, Engraçadinha.
— Estou ouvindo.
Baixa a voz:
— Eu te espero, embaixo, na porta. E outra coisa. Como vai a nossa amiguinha? Você notou alguma coisa de especial ou...
— Nada.
— Antes assim. Tomara que não tenha acontecido nada e que...
— Tomara!
Ele acrescentou, vivamente:
— Mas convém o exame! — e repetia, incisivo: — convém o exame! É indispensável! Nada como o preto no branco.
Engraçadinha suspira:
— Não quero mais tomar o seu tempo e...
O juiz repetia:
— Duas horas, ouviu? Estarei lá. Duas horas.
Quis dar um certo charme à despedida:
— Au revoir, Engraçadinha, au revoir!
Larga o telefone. Ia com as pernas bambas de felicidade.
*
Engraçadinha falara na casa de D. Araci. Ao desligar, pensa: “Estou natural como se não tivesse acontecido nada.” Entrara na casa da vizinha, risonha, quase feliz; dera um tapinha na face de Iara. D. Araci estava nos fundos da casa. Depois de pedir licença, encaminhara-se para o telefone. Começou a discar, cantarolando. Súbito, estaca: “Estou cantando, meu Deus!” E essa naturalidade doce pareceu-lhe quase cinismo. Como é que, depois de ter sido acariciada de uma certa forma, uma esposa... “Eu devia estar sofrendo e não sofro. Sofro muito pouco. Quase não sofro.”
Deixa o telefone. D. Araci vem entrando:
— Escuta, Engraçadinha — vira-se para Iara: — Minha filha, sai um pouco.
Ao mesmo tempo que Iara abandona a sala, D. Araci puxa Engraçadinha:
— Senta. Estou desesperada, Engraçadinha!
Olhando-a, Engraçadinha pergunta a si mesma: “Será que ela passou por isso?” Queria acreditar que na intimidade sexual tudo acontece ou, pelo menos, tudo pode acontecer. D. Araci começa a chorar:
— Imagina que o Leleco chegou hoje, sabe a que horas? Faz uma idéia?
— O Leleco?
— Quatro horas, Engraçadinha! Quatro da manhã!
— Mas oh, não se aborreça!
D. Araci põe a mão no braço da outra:
— Eu te contei o negócio do Ceguinho? Sim, o Ceguinho, o médium vidente? Contei, sim. Não contei? O Ceguinho, que faz muita caridade. Contei. E sabe que ele não cobra? Pois o Ceguinho disse que, dos 18 aos 19 anos, ia acontecer uma desgraça ao Leleco!
Engraçadinha tem um muxoxo:
— Palpite!
E a outra:
— Mas escuta. Leleco chegou, hoje, às quatro, branco como esse papel. Perguntei: “Está doente, meu filho?” Nem me respondeu e foi para o quarto. E, hoje, de manhã fui ver os bolsos do Leleco. Ele saiu com seis contos pra pagar a casa. Não pagou e está faltando três contos.
Engraçadinha tomou entre as suas as mãos da amiga:
— Pode ter perdido, quem sabe?
D. Araci ergue-se:
— Não creio. O Leleco anda com umas companhias que... Um amigo dele, o tal de Cadelão, dizem até que fuma maconha. Além disso, o Ceguinho... Você não acredita, mas olha: o Ceguinho é batata!
Engraçadinha levanta-se:
— Tenho que ir. Passo depois pra conversar melhor.
Gemeu:
— Passa. Vou te levar na porta. E outra coisa que também me preocupa: dizem que esse Cadelão, só o nome, vê se pode?, mas o Cadelão não gosta de mulher. O que é que eu vou fazer, minha Nossa Senhora?
*
Antes de falar com Engraçadinha, no telefone, Dr. Odorico resolvera passar na casa do Oto. O diálogo com o escritor mineiro era, para ele, se assim posso dizer, um excitante, um afrodisíaca espiritual, de primeira ordem. A inteligência jorrava do Oto Lara assim como a água dos tritões de chafariz. Foi encontrar aquele jovem espírito remexendo uma papelada imensa. Dr. Odorico deduziu que estaria, ali, a obra que o escritor ia construindo nos intervalos dos seus bate-papos antológicos.
O juiz observa, com uma cálida simpatia intelectual:
— O amigo produz muito!
De cócoras, a mão enfiada naquele torvelinho de papéis rabiscados, o Oto Lara deixa escapar um dos seus lampejos inumeráveis:
— Eu sou o autor de muitos originais, e de nenhuma originalidade!
Foi tal o deleite do juiz que chegou a perder a fala. Mais do que nunca, pareceu-lhe humilhante o brilho do Oto Lara. E lamentou que um taquígrafo não andasse atrás dele, as 24 horas do dia, pago pelo Estado, para imortalizar-lhe as frases perfeitas, irretocáveis. Só uma coisa admirava o Dr. Odorico: é que esse gênero verbal não arrancasse de si mesmo, todas as semanas, uma Comédia Humana, uma Divina Comédia ou As Vidas dos Doze Césares.
Dr. Odorico dá uma voltinha pela sala. Quis arrancar mais uma faísca daquele talento. Pergunta (ao mesmo tempo que imagina: “Lá vem bomba!”):
— Que me diz o amigo desse levante armado?
Atracado à papelada, Oto Lara deu um rútilo piparote na sedição que abalava o país:
— Isso é uma curra aérea! É a juventude aerotransviada! Em vez da lambreta, o avião!
Para o Dr. Odorico era demais. Pálido de admiração, praguejou interiormente: “Ah se eu tivesse esse brilho, não precisava geladeira, não precisava conversão. Levava Engraçadinha direitinho na conversa!” Estende a mão:
— Meu caro Oto, o diabo é que nós não temos coragem nem pra curras aéreas, nem pras propriamente ditas!
Eis a verdade: o Dr. Odorico, que se considerava um pusilânime, respeitava a coragem, onde quer que a encontrasse, inclusive nos gangsters. Sem querer, escapou-lhe o comentário meio gratuito: “O homem honrado é um gangster sem coragem!” Em cima da mesa do Oto, estava um volume de Molière, autor que Dr. Odorico considerava, textualmente, “meio gaiotote”.
*
O Dr. Alceu abrira dois consultórios. Um na cidade, outro em Del Castilho. Em ambos, atendia três vezes por semana. Na Zona Norte, fazia o aborto pobre ou, na pior das hipóteses, grátis. Já na cidade, os preços eram bem mais puxados. Naquele dia, precisava estar em Del Castilho. Mas não negava nada ao Dr. Odorico que, certa vez, o salvara num processo de estelionato. Uma hora antes, lá aparecia o juiz. (Subira a escada devagarinho.) O ginecologista abriu-lhe os braços numa efusão total. Já queria saber, de olho a um tempo terno e rútilo: “Algum galho? 14 anos? Grande idade! E quem é o feliz autor? O meritíssimo?” O Dr. Odorico, que, comumente, sentia-se um triste, um deprimido, gostava daquela plenitude jucunda e um pouco ordinária. Explicou tudo. Concluía: “Não há certeza, percebeu? Não há certeza!” Toma respiração, e baixa a voz, cavo: “É como se fosse minha filha!” Dr. Alceu põe-lhe a mão em cima do joelho:
— Sei, sei. É como se fosse sua filha, compreendo. Mas escuta cá: o meritíssimo há de querer dar uma espiadinha, não quer?
Silêncio. Dr. Odorico pensa: “Se eu disser que sim, vou parecer um bandalho, um cínico.” Vacila ainda. Mas argumenta consigo mesmo: “Quem, no meu lugar, não aproveitaria a situação?” Dr. Alceu percebe o conflito:
— Meu caro juiz, eu sou ginecologista. O ginecologista entende tudo, sabe tudo e não acredita em nada.
Já com uma certa dispnéia emocional, Dr. Odorico arrisca:
— Seria correto? De mais a mais, a mãe vai estar presente e eu não quero, em absoluto, não quero, entenda bem!
Dr. Alceu ri com um salubre cinismo:
— Não se incomode, Meritíssimo! Pode deixar! Eu dou um jeitinho!
Larga uma gargalhada, incontrolável, soberba, que inundou o consultório. Dr. Odorico pensa, fascinado por essa alegria irresponsável, pensa que só os canalhas sabem rir.
Cochicha o apelo:
— Mas não me comprometa!
*
Uma hora depois, está o Dr. Alceu segurando as extremidades da toalha, na frente de Silene. Diz com uma naturalidade melíflua:
— Sobe aí, minha filha, sobe!
Silene obedece, um pouco atônita. Engraçadinha está ao lado da mesa. Dr. Alceu indica os estribos de metal:
— Olha: põe os pés aqui. Assim.
Dr. Odorico mantém-se a distância, de costas para a cena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário